CARTA AOS CHEFES DE UNIDADE: A PEC 65 É RUIM PARA OS SERVIDORES E PIOR PARA O BRASIL

Sem explicar por que a PEC 65/2023 seria o “instrumento mais adequado para a manutenção do nível de excelência dos serviços prestados”, a carta dos Chefes de Unidade à Diretoria Colegiada do Banco Central, de 21/03/2024, dá apoio político à transformação do Banco Central em empresa pública de direito privado. 

Terá sido tal manifestação oportuna e respeitosa com os servidores da Casa? Ajuda a superar dificuldades existentes e melhorar o clima organizacional? Haveria a intenção de influenciar a opinião – e o voto – da categoria?

Referida reforma envolve graves implicações de ordem administrativa e previdenciária, fragiliza a governança da instituição e as relações de trabalho, e modifica até direitos adquiridos. Coloca em risco o acesso ao PASBC para milhares de vidas.

A extinção do BCB como autarquia federal e a criação da empresa pública Banco Central, de natureza privada, trazem enormes riscos para o cumprimento de sua missão institucional.

A total desvinculação do Banco Central em relação a Ministério ou a qualquer órgão da Administração Pública, eliminando toda relação de tutela ou subordinação, retira da esfera governamental a capacidade de participar da formação de parcela importante da política econômica, com efeitos desastrosos sobre a gestão de políticas públicas essenciais para a maioria da população brasileira. 

Fala-se em “melhores práticas internacionais”, mas não é todo Banco Central que tem prerrogativas e competências tão amplas e complexas como as nossas. A atuação do BCB tem sido reconhecida internacionalmente já há muitos anos.

De que maneira empregados sem estabilidade constitucional poderão cumprir suas atribuições com a autonomia necessária para manter o “nível de excelência dos serviços prestados”?

Além disso, nas práticas internacionais, os sistemas de pagamento instantâneos, equivalentes ao PIX brasileiro, são em geral pagos. Quem pode assegurar 100% que tal prática não esteja no horizonte?

A reforma constitucional proposta altera estruturalmente a organização do Estado brasileiro e tem potencial de causar impactos profundos na vida das pessoas, muitas delas já em idade avançada ou próximas do final de sua carreira profissional.

A carta dos colegas Chefes de Unidade denota pouco caso aos milhares de aposentados quando afirma, tão somente, que para “respeitar o compromisso com os servidores” se busca garantir “a proteção e as prerrogativas necessárias ao desempenho das atividades a cargo da Autoridade Monetária”, pois aposentados não mais desempenham atividades a cargo da Autoridade Monetária!

É fato: a PEC desloca os aposentados para cargos extintos, com risco real e palpável de, em poucos anos, terem seus proventos drasticamente corroídos.

Os Chefes de Unidade do BCB que se dispõem a auxiliar a Diretoria Colegiada ignoram os alertas dos três pareceres jurídicos já colocados à disposição dos servidores?

Pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe), revelou que 95% dos procuradores do BCB são contrários à PEC 65/2023.

Apesar de tais evidências, a Diretoria Colegiada da instituição ainda não apresentou à discussão os estudos que fundamentaram a decisão de propor a organização do BCB como empresa pública.

Ainda que a Diretoria Colegiada esteja comprometida a resolver os múltiplos problemas dessa PEC lacunosa e conte com o auxílio dos Chefes de Unidade é inevitável perguntar: quem pode garantir que toda a elaboração legislativa oriunda desse trabalho hercúleo não será completamente modificada pelo jogo político no Congresso Nacional?

Como seria possível à Diretoria do Banco Central pretender legislar em lugar do Congresso Nacional, elaborar normas administrativas como se fosse o Executivo e, no topo das decisões, garantir que nada será questionado ou modificado pelo Poder Judiciário? Qual seria a fonte de tanto poder?

O fato inquestionável é que a Empresa Pública Banco Central é o eixo da PEC, dessa que existe ou outra imaginária, com empregados sem estabilidade, possibilidade de abrir subsidiárias, desmembrar as atuais funções do Bacen e até poder avançar na privatização de certas atividades.

A defesa da missão institucional do Banco Central, dos direitos sociais e dos servidores públicos exige rechaçar essa PEC! 

Hoje, dizer “(X) Sou contra a PEC independente de alterações” é a ÚNICA forma de abrir caminho para verdadeiras negociações com dignidade e independência, enfrentando com altivez o desafio de buscar soluções adequadas para os problemas vividos pelos servidores e, em sentido amplo, pelo serviço público do qual o Banco Central é parte inseparável. 

Votar “(X) Sou contra a PEC independente de alterações” é também o caminho para (re)construir a unidade do funcionalismo para a luta em defesa de seus interesses coletivos.

Brasília, 23 de março de 2024

Seção Sindical do SINDSEP no Bacen

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