Ibaneis não cumpre promessa e processo de privatização da CEB avança. Trabalhadores/as realizam novo ato na quarta (14)

Ibaneis não cumpre promessa e processo de privatização da CEB avança. Trabalhadores/as realizam novo ato na quarta (14)

Na próxima quarta-feira (14), os trabalhadores e as trabalhadoras da Companhia Energética de Brasília (CEB) realizam novo ato em defesa da estatal como pública e a serviço da sociedade. A atividade está a marcada para às 14h, em frente à Câmara Legislativa do DF (CLDF).

Na quarta-feira (7), a categoria realizou um grande ato em defesa da estatal, que contou com a participação de representantes de inúmeras categorias e de parlamentares. Mesmo sob o sol escaldante da capital federal e com aparato policial para impedir a livre manifestação, os trabalhadores e as trabalhadoras não arredaram o pé da luta. Resistiram até serem recebidos por representantes do Governo de Brasília (GDF).

No encontro com o secretário da Casa Civil do GDF, Gustavo Rocha, os dirigentes fizeram uma apresentação técnica sobre a real situação da CEB, sobretudo, reforçando os desafios vencidos em 2019 e o caminho de sustentabilidade que a empresa vem percorrendo, mesmo com a atual administração jogando contra.

Além disso, foram realçados os impactos da pandemia que estão sendo sentidos não só pela CEB, mas por toda a economia. O secretário solicitou a apresentação e ficou de analisar melhor e convocar uma reunião.

A luta não pode parar

Na manhã seguinte ao ato, o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), em lançamento de projeto de energia, afirmou que a privatização da CEB é mais que necessária. “Não podemos beneficiar 300 a 400 servidores da CEB e prejudicar uma população de 3,2 milhões de pessoas. Em primeiro lugar está a população do Distrito Federal. E se essa privatização se faz necessária para melhorar a eficiência, os investimentos na cidade e os investimentos que a CEB precisa, vamos realizar, sim, com o apoio do Tribunal de Contas (TCDF)”, disse.

Entretanto, o que Ibaneis ignora é que se, de fato, a privatização se concretizar, a população será a mais prejudicada no processo, como ocorreu em outros estados. Um exemplo disso foi o que ocorreu em Goiás. Em dezembro de 2016, a Companhia Energética de Goiás (Celg) foi vendida para a italiana Enel e hoje os goianos sentem na pele os efeitos negativos da medida. Apagões são bastante comuns ─ em média 23 horas sem energia elétrica. Além disso, em três anos, o valor cobrado aos consumidores teve reajuste de 27%.

Contradições

De a acordo com reportagem do Brasil de Fato, o processo de privatização da CEB está bastante avançado. Segundo explicação da direção da empresa e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem assessorado no processo de privatização, a justifica para a desestatização é “baixa lucratividade e eficiência da empresa”.

Porém, de acordo com o registro da própria estatal, o lucro líquido, no ano passado foi de R$ 119 milhões. Só o segmento de geração de energia obteve resultado de R$ 47,7 milhões. Inclusive, a estatal foi considerada uma das melhores empresas de energia do país.

“A CEB é uma empresa premiada, muito bem avaliada pela população, que recebeu o prêmio esse ano da melhor distribuidora do Centro Oeste, desbancando três empresas privatizadas. Ou seja, gera dividendos para o GDF [Governo do Distrito Federal] e ainda aplica uma das menores taxas do país. Não faz sentido essa afirmação de falta de eficiência”, contesta João Carlos Dias, dirigente do Sindicato dos Urbanitários do DF (STIU-DF), contrário a venda da estatal.

Até agora, seis empresas demonstraram interesse na compra dos ativos da estatal, que foi estipulado para o mínimo de R$ 1,4 bilhão. Entre elas estão a Energisa e a italiana Enel SpA. Esta última foi considerada, ano passado, a pior companhia de energia elétrica do país, devido à aplicação de taxas abusivas e má qualidade dos serviços nos estados do Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás.

“Se a gente perder a empresa, o que pode acontecer no Distrito Federal é aquilo que aconteceu em todos os estados que praticaram a privatização: elevação de tarifas e piora sistemática de serviços. Nós temos um exemplo próximo do estado de Goiás, em que as tarifas chegaram a aumentar mais de 33%”, alerta Dias.

Desemprego

Segundo o sindicato, junto ao processo de venda, ocorre um plano de demissão voluntária (PDV), que deve atingir 120 funcionários. Do quadro com cerca de 900 empregados, o público-alvo do acordo são aqueles com mais de 30 anos de carreira e que acumulam concessões ou acréscimos em função de cargo comissionado.

Além da CEB, outras cinco empresas públicas de energia estão em processo de privatizaçãoCEEE (RS), CEA (AP), Celesc (SC), Cemig (MG) e Eletrobras. Juntas estas empresas representam 17,1% do mercado de distribuição de energia elétrica do Brasil e atendem a 14,4 milhões de clientes.

Segundo Gilberto Cervinski, pesquisador do setor de energia elétrica da Universidade Federal do ABC (UFABC), o processo de privatização do setor pode, a longo prazo, gerar efeito no aumento do desemprego em todo o país.

“Se você aumenta a conta de luz, o custo de energia elétrica, isso significa que as pequenas e médias empresas, as grandes não, porque recebem preço de custo. Estes também tem que pagar caro. Então tem dois reflexos, tarifaço para o povo e falência de pequenas médias empresas e portanto, essa lógica impede a recuperação da economia brasileira. Isso significa na prática desemprego em massa”, explica.

Contramão

Diferente do Brasil, Estados Unidos, China e Canadá mantêm o domínio do setor elétrico. Segundo Ildo Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), no país estadunidense, por exemplo, “a maior parte é controlada publicamente e pelo governo federal, em grande parte, inclusive, pelo próprio exército americano”. Lá, o Corpo de Engenheiros do Exército é o maior operador de energia elétrica do país, controlando as barragens de John Day, The Dalles e Bonneville.

Na China, a estatal Three Gorges Corporation controla a maior hidrelétrica do mundo, a Três Gargantas. No Canadá, o setor é controlado por companhias dos governos provinciais, semelhante aos governos estaduais brasileiros.

A CEB e o governo do GDF foram contatados por telefone e e-mail pelo Brasil de Fato, mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta.

Fonte: CUT-DF com informações do STIU-DF e Brasil de Fato

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