Técnico ou Político?
A ocupação do cargo de Presidente do Banco Central – como de resto de qualquer outro – exige contenção, como estabelece o Código de Conduta dos Servidores do Banco Central. Daí alguma perplexidade diante de notícias e artigos, dos últimos dias. Alguns exemplos:
Folha de S. Paulo – 12.06
“O presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu amigo, que aceitaria ser seu ministro da Fazenda em eventual disputa pelo Planalto em 2026. Ao mesmo tempo, desestimulou a candidatura de Tarcísio à Presidência, avaliando que ele deve tentar a reeleição em SP”.
O Estado de São Paulo – 12.06
O princípio da impessoalidade é um dos mais relevantes da administração pública, conforme estatuído explicitamente na Constituição, em seu artigo 37. As razões são óbvias: um funcionário público não pode atuar conforme suas predileções pessoais ou suas convicções político-partidárias, porque o Estado, por definição, deve tratamento igual a todos os cidadãos, indistintamente. Esse valor é particularmente relevante em instituições responsáveis por decisões bastante sensíveis para o conjunto da sociedade […]
Nos últimos tempos, circulam notícias segundo as quais o presidente do BC, Roberto Campos Neto, vem se permitindo frequentar ambientes e eventos eminentemente políticos. O caso mais recente foi a homenagem que Campos Neto acabou de receber da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), seguida de um jantar alegadamente “íntimo” – repleto de banqueiros, políticos e empresários – oferecido pelo governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), no Palácio dos Bandeirantes. Por iniciativa do deputado Tomé Abduch (Republicanos), a Alesp concedeu ao presidente do BC a medalha de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo. […]
Ao aceitar presidir o BC, o executivo fez uma opção livre e consciente por abraçar o serviço público durante um período da vida. E junto com a função pública vêm grandes responsabilidades e restrições nada triviais.
Folha de S.Paulo – 12.06.24
Segundo Roberto Campos Neto, “a situação econômica nos próximos anos sofrerá forte deterioração, o que pode atrapalhar Tarcísio em uma eventual vitória em 2026.”
Comentário de João Amoedo (Banqueiro, fundador do Partido Novo) no X (Twitter): “Espero que essa fala de Roberto Campos Neto não seja verdadeira. Nenhum presidente responsável de um Banco Central falaria isso sobre o seu país.”
Folha de S. Paulo – 13.06.24
É evidente que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem se deixado bajular perigosamente por setores da política.
O episódio mais recente foi a homenagem recebida na Assembleia Legislativa de São Paulo, na segunda (10), seguida de jantar oferecido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) —com a presença de empresários e políticos do calibre do ex-presidente Michel Temer (MDB) e de Gilberto Kassab (PSD).
Menos de um mês antes, os mesmos Campos Neto e Tarcísio foram os convidados mais ilustres de um jantar organizado por Luciano Huck, apresentador da TV Globo que há anos demonstra a intenção de participar direta ou indiretamente da disputa presidencial.
Metrópolis – 10.06.24 e 11.06.24
Lista (não exaustiva) de presença no “jantar reservado” oferecido por Tarcísio para Campos Neto (dentre os 70 convidados).
A interlocutores, Tarcísio tem dito que será um jantar “para amigos próximos” e que a maioria dos convidados é de Campos Neto.
Alguns dos presentes:
Gilberto Kassab e Marcos Pereira, presidentes nacionais do PSD e do Republicanos, respectivamente. Pereira é pré-candidato à sucessão de Arthur Lira no comando da Câmara.
Ex-governadores João Doria e Rodrigo Garcia
Ministros do governo Bolsonaro: Bruno Bianco (Advocacia Geral da União), Fábio Faria (Comunicações), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Wagner Rosário (Controladoria Geral da União)
A ex-presidente da Caixa Daniela Marques e Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, advogados de Campos Neto, completaram a lista de políticos.
Representantes da Faria Lima: Roberto Sallouti e André Esteves, do banco BTG Pactual; Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho Administrativo do Bradesco; Luís Stuhlberger, fundador e gestor do Fundo Verde; Rafael Furlanetti, diretor da XP Investimentos.