SOS Sindical Haiti
CUT convoca entidades filiadas a arrecadar fundos para ajudar na reconstrução do país
Conforme decidido pela Executiva Nacional, a CUT lança uma campanha de arrecadação de fundos para a reconstrução do Haiti. O dinheiro será encaminhado diretamente para as entidades sindicais haitianas parceiras políticas da CUT, para evitar desvios.
As doações podem ser feitas no Banco do Brasil, agência 3324-3 ,conta corrente 956251-6 (SOS Sindical Haiti).
Nota da Executiva Nacional da CUT:
A Direção Executiva Nacional da CUT, reunida em São Paulo, no dia 19 de janeiro de 2010, reafirma sua solidariedade, manifestada desde o dia 13 de janeiro, às vítimas do terremoto no Haiti. A CUT decidiu iniciar uma campanha para ajudar na reconstrução do Haiti, dando ênfase ao movimento sindical haitiano com o recolhimento de fundos entre os sindicatos brasileiros para serem remetidos às organizações que a CUT mantém relações naquele país.
Em contato com dirigentes sindicais haitianos que foram parte da delegação internacional presente no 10º CONCUT (agosto de 2009), a CUT foi informada da verdadeira catástrofe que se abate sobre o povo haitiano. Muitos sindicalistas perderam a vida, outros tantos tiveram suas casas e locais sindicais destruídos e o compromisso assumido pela nossa central é de ajudar na reconstrução das organizações dos trabalhadores e assistir às suas famílias no Haiti.
A situação atual no Haiti não é uma fatalidade, é fruto historicamente da superexploração e pilhagem das grandes potencias, como a França e os EUA, do país que se constituiu na primeira nação negra independente do mundo em 1804.
A CUT ressalta que o enorme número de vítimas (fala-se em até 200 mil mortos, e milhões de desabrigados em um país de 8 milhões de habitantes) e a amplitude da destruição que sofreu a região de Porto Príncipe, capital do país, não é uma fatalidade, é o resultado das carências e precárias condições de infra-estrutura e das habitações, em uma situação em que o desemprego atingia mais de 60% dos trabalhadores e os salários são de miséria, enquanto o governo do Haiti pagava mensalmente milhões de dólares de dívida externa.
O fato de não haver hospitais, nem meios de transporte, nem serviços públicos organizados, não é um fenômeno “natural”, é o resultado de uma política aplicada anos a fio sob a disciplina do FMI e em benefício das grandes potências que apoiaram a ditadura Duvalier até 1981 e depois o golpe de Estado que tirou do poder o presidente Aristide em 2004.
A CUT, que é a favor da soberania do povo haitiano, observa com inquietação que a tragédia foi respondida pelo governo dos Estados Unidos com uma verdadeira ocupação militar. Já são mais de 13 mil soldados enviados por Washington apetrechados para a guerra, que hoje praticamente controlam todo o país. Vôos rasantes para despejar suprimentos para uma população faminta, por exemplo, jogam flagelados em conflito, deixando sem nada crianças, velhos e feridos que não podem disputar os “pacotes humanitários”.
O que o Haiti precisa é de médicos, enfermeiros, engenheiros e não de tropas de ocupação, seja dos EUA, seja da ONU.
A CUT toma posição pela anulação imediata da dívida externa do Haiti pelos países credores e pela devolução total da indenização paga à França pelo Haiti quando da sua emancipação; pela abertura de fronteiras dos países aos quais os cidadãos haitianos queiram chegar; pela solidariedade e ajuda material com respeito à dignidade do povo irmão do Haiti; retirada de condicionantes para a ajuda externa, reafirmando que é necessário ter como objetivo o de restituir ao povo haitiano a sua soberania, com o fim das ocupações militares estrangeiras.
Conclamamos os sindicatos filiados, ramos e CUTs estaduais a contribuírem com depósitos no Banco do Brasil, Agência 3324-3 conta corrente 956251-6 (SOS Sindical Haiti), encarregando-se a CUT nacional de fazer chegar às organizações sindicais com as quais mantém relação os donativos.
Propomos também a organização de brigadas de trabalhadores cutistas para ajudar na reconstrução do Haiti, em especial do movimento sindical haitiano. A CUT, além de assumir sua responsabilidade na ajuda direta ao movimento sindical haitiano, se declara disposta a participar de iniciativas unitárias, com outras centrais e movimentos populares, para reforçar a solidariedade aos trabalhadores e ao povo do Haiti neste momento difícil.
Executiva Nacional da CUT
Entrevista com o sindicalista haitiano
“O Haiti não precisa de armas, nem de porta-aviões, nem de carros blindados, hoje o Haiti precisa de enfermeiros, médicos, engenheiros, para nos ajudar a enfrentar a situação”.
Leia aqui a íntegra da entrevista com o dirigente sindical haitiano Fignolé Saint-Cyr, após o terremoto de 12 de janeiro que arrasou Porto Príncipe, capital do Haiti.
Na entrevista, Saint-Cuyr, que é secretário-geral da Central Autônoma dos Trabalhadores do Haiti (CATH), revela como está a situação no país e alerta para o fato de que há países que querem se aproveitar da catástrofe para aumentar a ocupação militar no Haiti. “É verdade que o país está vivendo uma catástrofe, mas existem aqueles que se aproveitam disso para reforçar a ocupação. Por exemplo, os Estados Unidos instalando 20.000 homens armados. O Haiti não precisa de armas, nem de porta-aviões, nem de carros blindados, hoje o Haiti precisa de enfermeiros, médicos, engenheiros, para nos ajudar a enfrentar a situação”, declara.
Assim como milhares de haitiano, ele também perdeu tudo após o terremoto. “Eu estou na rua, como centenas de milhares de haitianos. Como eles eu perdi tudo, inclusive minha casa. Ninguém sabe ao certo quantos mortos, 300 000? Nos viramos com aquilo que sobrou e contamos com a solidariedade entre nós. Existem muitas amputações, e uma situação sanitária muito precária. Repito mais uma vez, nós precisamos de médicos e enfermeiros”.
A CATH mantém relações com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) que iniciou uma campanha entre as suas entidades filiadas para ajudar a reconstruir o país, com ênfase no movimento sindical.