Principais veículos de comunicação do Brasil manipulam informações sobre reforma da Previdência
Principais veículos de comunicação do Brasil manipulam informações sobre reforma da Previdência
A reforma da Previdência é prioritária para o governo do presidente Jair Bolsonaro. Embora o texto imponha mais tempo de contribuição, aumente a idade para se aposentar, diminua o benefício da aposentadoria e retire/altere direitos sociais imprescindíveis para a construção de uma sociedade economicamente mais justa, como o abono salarial, grande parte da população ainda se mostra favorável ou não se posiciona quanto à proposta. O estudo Vozes Silenciadas – reforma da Previdência e mídia, realizado pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, mostra a participação dos principais veículos de comunicação impresso e telejornais como determinantes na resposta da sociedade à reforma da Previdência.
A proposta, que ao iniciar a tramitação, em fevereiro deste ano, ganhou o nome de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/2019, foi aprovada na Câmara dos Deputados em julho. Atualmente, ela passa pela análise do Senado. A mudança no Sistema de Previdência Social proposta pelo presidente ultraliberal impacta diretamente na vida de 200 milhões de pessoas e foi o único projeto detalhado no plano de governo de Bolsonaro, apresentado ainda na corrida eleitoral de 2018.
Baseada na pesquisa “Quem controla a Mídia”, realizada também pelo Intervozes em parceria com o Jornalistas Sem Fronteiras, o estudo que faz a relação entre mídia e reforma da Previdência selecionou os três principais veículos de comunicação impresso e os três principais telejornais, em termos de audiência e circulação. Quanto aos impressos, os principais são Folha de São Paulo, Estadão e O Globo. Já os principais telejornais são Jornal Nacional, Jornal da Record e SBT Brasil.
Para delimitar a pesquisa, o estudo enfatizou a participação da figura do especialista em matérias que tratassem da reforma da Previdência, além de identificar seu posicionamento (favorável, parcialmente favorável, parcialmente contrário, contrário, não identificado). Isso porque, no jornalismo, o especialista se remete a alguém de total conhecimento de um tema específico, sem interesse imediato no assunto, diferente de ministros e secretários de governo, por exemplo. Além disso, dentro do grupo de especialistas, a pesquisa fez um recorte de gênero, identificando a disparidade entre homens e mulheres neste grupo.
Jornais impressos
Dentro da proposta metodológica, foram analisadas matérias no período de 1º de janeiro a 30 de junho.
Neste período, foram registrados 71 editoriais sobre o tema na Folha de São Paulo. Basicamente, todos favoráveis à proposta de Bolsonaro, exceto algumas observações sobre a necessidade de inserção de militares no texto e questões que poderiam gerar questionamentos quanto ao enquadramento constitucional. Foram registrados títulos como “Sucesso à Reforma” e “Para Ontem”. Quanto aos especialistas, foram registradas 70 parições. Entretanto, vários deles aparecem repetidamente em matérias distintas. Descontadas as repetições, foram registrados 57 especialistas, sendo 47 homens e 10 mulheres. Do grupo total, 57 favoráveis à reforma e 20 contrários.
No Estadão, foram registradas 135 aparições da reforma da Previdência nos editoriais, com títulos como “Esperança Renovada” e “Reformar para crescer mais”. O posicionamento também foi favorável, com as mesmas exceções apontadas na Folha de São Paulo. O estudo ainda registrou a aparição de 27 especialistas, sendo 24 homens e 3 mulheres. Do grupo, 30 foram favoráveis à reforma da Previdência e 1 contrário (contado as repetições de especialistas).
Já O Globo fez 61 editoriais sobre a reforma da Previdência, e também se mostrou favorável ao texto. Nesses editoriais, títulos como “O envelhecido discurso do PT contra a reforma”. Foram registrados 75 especialistas em 6 meses de análise, sendo 70 homens e 5 mulheres. Do total, 63 favoráveis e 3 contrários.
Telejornais
O estudo Vozes Silenciadas – reforma da Previdência e mídia analisou quatro semanas de exibição do Jornal Nacional, Jornal da Record e SBT Brasil, levando em consideração momentos cruciais da tramitação da reforma da Previdência na Câmara.
Em 28 edições, o Jornal Nacional trouxe apenas dois especialistas para falar sobre a reforma da Previdência. Ambos se posicionaram favoráveis à proposta de Bolsonaro.
No Jornal da Record, que privilegiou Jair Bolsonaro na corrida eleitoral de 2018, apenas um especialista tratou do tema da reforma da Previdência, e se mostrou favorável.
Já o SBT Brasil levou seis especialistas para falar sobre a reforma da Previdência, sendo uma mulher (o único telejornal a trazer uma especialista). Do grupo, cinco especialistas foram favoráveis ao tema e um contrário.
Na análise dos telejornais, ainda foi observado a constância de, após matérias sobre a reforma da Previdência, veiculação de matérias de indicadores do mercado financeiro, que melhoravam quando a proposta avançava. Também verificou-se espaço amplo para representantes do governo, sem contraponto. Além disso, o estudo do Intervozes também apontou que parte desses especialistas convidados para falar sobre reforma da previdência – tanto nos jornais impressos como telejornais – são ligados à bancos privados e faculdades privadas.
Manipulação
De acordo com pesquisa do MDA/CNT, divulgada em agosto deste ano, mais de 47% da sociedade é a favor ou não sabe o que responder quando questionada quanto ao apoio ou rejeição à proposta de reforma da Previdência (36,6% a favor e 10,7% não souberam responder). Esse alto índice é assustador frente aos prejuízos flagrantes contidos na reforma da Previdência.
A partir do estudo Vozes Silenciadas – reforma da Previdência e Mídia, é possível verificar que a mídia continua sendo uma grande influenciadora da opinião pública, utilizando desarranjos comunicacionais, como manipulação e ausência de fontes, para impedir a construção do pensamento crítico e o exercício da liberdade de expressão, fraturando o sistema democrático.
A reforma da Previdência é apenas um dos temas que a mídia tem influência direta na opinião pública. Outros processos, como o golpe de 1964 e de 2016, além da prisão do presidente Lula, também são alguns dos temas que têm atuação determinante dos meios de comunicação junto à sociedade. Os mesmos temas dialogam diretamente com os processos de transformação social, que desembocam no rompimento com a democracia.
Lançamento no DF
Na última segunda-feira (16), a CUT Brasília, o Comitê Lula Livre DF, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo lançaram o estudo Vozes Silenciadas – reforma da Previdência e Mídia. A atividade foi realizada na Praça Chico Mendes, na UnB, e contou com a participação de dirigentes sindicais, militantes pelo direito à comunicação, integrantes de movimentos sociais e estudantes.
Como encaminhamento, foi feita a proposta para que os sindicatos filiados à CUT, bem como organizações do movimento social, levem para suas bases a apresentação do estudo. O objetivo é fazer um trabalho de formação para enriquecer o diálogo com a sociedade sobre os prejuízos da reforma da Previdência e a quem ela realmente interessa, além de alertar sobre o monopólio midiático e o direito à comunicação.
Interessados/as em agendar uma data para evento de apresentação do Vozes Silenciadas – reforma da Previdência e mídia podem ligar para 3251-9385 (falar com Vanessa Galassi).
Fonte: CUT Brasília