Presidente da Fiesp critica juros altos e afirma que Campos Neto ‘optou por posicionamento político’
Para Josué Gomes, postura do presidente do Banco Central coloca em risco a autonomia da autoridade monetária
Por Ana Flávia Pilar
30/07/2024
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, disse nesta terça-feira, que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, adotou um “posicionamento político”, o que colocaria em xeque a autonomia da autoridade monetária.
Segundo Gomes, dois exemplos disso seriam a ida de Campos Neto às urnas em 2022 vestindo a camisa da seleção brasileira, e a homenagem que recebeu em jantar promovido pelo governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos).
Hoje, o presidente do BC foi homenageado pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Ambos os governadores fazem oposição ao presidente Lula, um crítico contumaz de Campos Neto, indicado para o cargo no governo de Jair Bolsonaro.
— Ele (Campos Neto) optou pessoalmente por um posicionamento político. Se acabarem com a autonomia do Banco Central, o “mérito” vai ser todo do Campos Neto — disse Gomes a jornalistas em café da manhã realizado hoje na Fiesp.
Josué Gomes é também presidente do Grupo Coteminas, que tiveram seu pedido de recuperação judicial homologado na semana passada pela 4ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. As nove empresas incluídas no pedido somam R$ 2 bilhões em dívidas.
Questionado se Lula deveria se eximir de questionar a postura de Campos Neto à frente da autarquia, como fez nos últimos dias, Gomes minimizou os ataques do presidente. Para o executivo, seria preciso “um José Alencar” para distensionar as relações entre o governo federal e o BC.
Campos Neto recebe o colar de Honra ao Mérito do Legislativo de SP, observado pelo governador Tarcísio de Freitas — Foto: Marcelo F. Camargo/Governo do estado de SP
Ele se referia ao seu pai, que foi vice-presidente de Lula em seus dois primeiros mandatos e ficou conhecido por criticar recorrentemente os juros altos num momento em que, diferentemente de hoje, o BC não tinha autonomia em relação ao governo. José Alencar morreu em 2011.
Segundo o presidente da Fiesp, o governo federal precisa de alguém capaz de reprovar publicamente decisões do BC:
— Tinha alguém que falava com legitimidade sobre o assunto, e ele (Lula) não precisava falar (nos dois primeiros mandatos). Infelizmente falta hoje no governo alguém que trate desse debate, então ele se sente na obrigação de falar.
Gomes também disse que o fato de a indústria ter avançado pouco nas décadas recentes é consequência da combinação entre câmbio, taxas de juros e impostos elevados sobre o setor. Mas acrescentou que a indústria responderia por aproximadamente 30% do montante arrecadado pelo governo federal em impostos, mesmo representando uma parcela menor do PIB (25,5% em 2023).
Segundo o executivo, a taxa básica de juros brasileira, a Selic, se manteve próxima a 6% na média dos últimos 25 anos, enquanto outros países tiveram percentual bem menor, barateando os custos para capital de giro e investimentos.
Josué Gomes expressou desaprovação em relação à manutenção da Selic em 10,5% ao ano, patamar considerado por ele elevado, mesmo diante da queda nos índices de inflação nos últimos meses, o que estaria limitando investimentos na indústria, em sua visão.
— Com essa taxa de juros, é preferível deixar o dinheiro no banco (em vez de investir na indústria). Se você deixar o dinheiro no banco, aplicado em títulos do Tesouro, que são os títulos mais seguros de um país, você vai ter um retorno dessa magnitude. A empresa só tem duas fontes de recursos: recursos de terceiros, que, com essa taxa de juros, são proibitivos, e o lucro, mas nosso negócio ele tem diminuído porque a indústria é altamente tributada. Se a gente não resolver esses dois problemas, a indústria não vai investir e a produtividade vai continuar caindo.
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